Natalia Aparicio / 27 de Novembro de 2025

Processo de fermentação: tecnologias e estratégias para desenvolver análogos lácteos de elevada qualidade

As alternativas aos produtos lácteos enfrentam um mercado altamente exigente: têm de oferecer sabor, cremosidade, funcionalidade, bem como um bom perfil nutricional e ambiental — tudo isto a um preço acessível.

A chave para obter análogos lácteos de qualidade está no processo de fermentação. A fermentação pode ser utilizada não só para desenvolver o produto final, mas também para obter ou melhorar ingredientes que elevam a qualidade da formulação.
Neste artigo apresentamos casos práticos para desenvolver análogos lácteos através de diferentes processos fermentativos, bem como outras estratégias tecnológicas que vão desde matérias-primas vegetais locais à estruturação de gorduras e ao fracionamento a seco.

Processos de fermentação

Processo de fermentação: tecnologias e estratégias para desenvolver análogos lácteos

A escolha do processo de fermentação adequado depende do resultado pretendido: produto final pronto a consumir, ingredientes intermédios que melhoram formulações ou ingredientes avançados com funções muito específicas.
Segue-se um resumo do que cada via tecnológica aporta e quando utilizá-la.

Produto final: processo de fermentação tradicional

Este processo aplica-se diretamente a matérias vegetais, como bebidas vegetais ou pastas de frutos secos, utilizando culturas iniciadoras típicas dos lácteos fermentados, como bactérias ácido-lácticas (Lactobacillus bulgaricus, Streptococcus thermophilus) e fungos como Penicillium camemberti e P. roqueforti.

  • Resultados: Análogos de iogurte e queijo com acidez controlada, estrutura de gel estável, baixa sinérese e características sensoriais próximas dos lácteos tradicionais.
  • O que resolve: Reduz os off-flavours da matéria-prima vegetal, gera um perfil aromático característico dos lácteos e melhora textura e viscosidade.
  • Quando utilizar: Quando o objetivo é um produto final com boa aceitação sensorial, clean label e enquadramento regulatório imediato.
  • Parâmetros-chave: Tipo de cultura iniciadora, capacidade fermentativa dos substratos vegetais, pH final, tempo/temperatura de fermentação, força do gel, sinérese e estabilidade ao longo da vida útil.

Ingredientes intermédios: fermentação de biomassa e funcionalização

O crescimento controlado de fungos e leveduras permite gerar biomassa proteica e modular propriedades tecnofuncionais essenciais, reduzindo simultaneamente os off-flavours característicos das proteínas vegetais.

A funcionalização atua como uma etapa estratégica que liga a matéria-prima vegetal a um comportamento tecnológico e sensorial mais próximo do das proteínas lácteas, como a caseína.
Este processo permite obter ingredientes intermédios com maior valor acrescentado, integráveis em bebidas, iogurtes ou queijos análogos, melhorando a estabilidade, a textura e o perfil organolético.

  • Resultados: Micoproteína (aporte proteico e estrutural), Single cell oils (aporte lipídico e comportamento texturizante), Ingredientes vegetais funcionalizados com melhor desempenho tecnológico e sensorial
  • O que resolve: Melhora a tecnofuncionalidade (emulsificação, gelificação, retenção de água), reduz off-flavours e aumenta o valor nutricional sem impacto no rótulo.
  • Quando utilizar: Para gerar micoproteína ou quando a base vegetal necessita de melhoria sensorial, tecnológica e/ou nutricional; para estabilizar bebidas, iogurtes ou queijos análogos.
  • Parâmetros-chave: Rendimento, composição, impacto reológico e compatibilidade com etapas posteriores do processo.

Ingredientes avançados: fermentação de precisão

Esta abordagem utiliza plataformas microbianas concebidas para produzir moléculas específicas.

  • Resultados: Moléculas feitas à medida que replicam funções essenciais da matriz láctea (redes proteicas tipo caseína, lípidos específicos, enzimas/compostos aromáticos).
  • O que resolve: Necessidades muito específicas de estrutura, fundência, sabor/maturação ou estabilidade que não podem ser alcançadas com matérias-primas vegetais convencionais.
  • Quando utilizar: Em I&D a médio prazo quando se procuram funcionalidades de elevado desempenho. Nota regulamentar (UE): atualmente não comercializável; requer estratégia regulatória e alternativas de curto prazo (tradicional + biomassa).

precision fermentation

Processo de fermentação com matérias-primas vegetais locais: Projeto FERVELACT

Atingir atributos como aroma, cremosidade e valor nutricional típicos dos lácteos, partindo de matérias vegetais, é um desafio significativo.
Para ultrapassar esta barreira, a AINIA utiliza processos de fermentação controlada com bases vegetais de chufa, amêndoa, tremoço e linhaça, juntamente com tecnologias avançadas:

  • Metabolómica: identificação de metabolitos-chave gerados durante a fermentação

  • Metagenómica: caracterização dos microrganismos produtores desses metabolitos

  • Food Computing: orientação do processo fermentativo para o perfil sensorial pretendido

Resultados:

  • Culturas iniciadoras ajustadas a cada matéria-prima vegetal

  • Nova bebida vegetal (tremoço + chufa) com propriedades nutricionais comparáveis ao leite de vaca meio-gordo

  • Análogos fermentados de iogurte e queijo com gel estável, baixa sinérese e perfil nutricional semelhante ao dos lácteos de referência

Análogos lácteos

Potenciação de sabor através do processo de fermentação: Projeto FLAVOURFERM

Reduzir off-flavours vegetais e construir um bom perfil sensorial — em aroma e textura — é crítico para a aceitação dos análogos lácteos.
Para isso, estamos a otimizar diferentes processos de fermentação (tradicional, biomassa e precisão) e a validar resultados em ambiente industrial, com recurso a:

  • Proteínas recombinantes (caseína animal-free) obtidas por fermentação de precisão

  • Fermentação de biomassa fúngica para ingredientes com melhor perfil sensorial e nutricional

  • Processos fermentativos tradicionais para aplicações análogas

  • Modelização computacional para prever e direcionar a formação de compostos voláteis associados ao sabor lácteo e umami

Resultados alcançados:

  • Melhoria significativa de sabor e textura, a testar com consumidores

  • Ingredientes funcionais prontos para bebidas, queijos análogos e até análogos cárneos

  • Rotas de formulação clean label compatíveis com escala industrial

Projeto desenvolvido pela AINIA com apoio da União Europeia.

Proteínas e ingredientes funcionais obtidos por classificação por ar: Projeto AIRPROT

Aumentar o teor proteico e a funcionalidade das proteínas alternativas de forma sustentável, sem penalizar o rótulo, exige novas linhas de processo.
No AIRPROT, a AINIA trabalhou com:

  • Fracionamento a seco por classificação por ar A partir de algarroba, tremoço, insetos e subprodutos vegetais. Aplicaram-se tratamentos térmicos/enzimáticos para modular viscosidade e textura, replicando matrizes como leite, iogurte ou queijo e melhorando a digestibilidade.
  • Estratégias de funcionalização: Térmicas, enzimáticas e fermentativas.

Resultados:

  • Modulação das propriedades nutricionais, sensoriais e tecnológicas

  • Concentrados proteicos e frações de amidos/fibras com melhor emulsificação e retenção de água

  • Testes de aplicabilidade em smoothies e produtos de panificação

Projeto desenvolvido pela AINIA com apoio da Generalitat Valenciana e do IVACE.

Novas vias para estruturas lipídicas sustentáveis: Projeto BOILÀ

A transição para alternativas lácteas mais saudáveis e sustentáveis exige substituir óleo de palma e coco por estruturas lipídicas capazes de replicar a funcionalidade e o desempenho sensorial dos lácteos.
A AINIA investigou diversas abordagens:

  • Extração avançada de oleossomas (grainha de uva, semente de abóbora)

  • Oleogelação proteica para estruturar óleos vegetais líquidos

  • Produção de Single Cell Oils por fermentação microbiana

  • Desenvolvimento de uma linha celular de oliveira para novas rotas biossintéticas de lípidos

Resultados:
Frações ricas em oleossomas, novas gorduras estruturadas e emulsificadas com proteínas, avanços na produção de lípidos microbianos e uma linha celular de oliveira — um portfólio de gorduras sustentáveis com elevado potencial para análogos lácteos e produtos plant-based.

Projeto desenvolvido pela AINIA graças ao apoio do IVACE, da Generalitat Valenciana e da União Europeia.

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