O papel dos insetos como fontes alternativas de proteína está a tornar-se cada vez mais relevante devido ao seu potencial para transformar os sistemas alimentares globais. Com uma pegada ambiental reduzida e um elevado valor nutricional, os insetos posicionam-se como um elemento-chave na procura de soluções proteicas mais sustentáveis. Na AINIA, desenvolvemos diversos projetos que exploram abordagens inovadoras e ecológicas para produzir fontes alternativas de proteína. Até 2050, estima-se que a população mundial aumente 30%, atingindo os 10 mil milhões de pessoas. Este crescimento representa um desafio significativo para a sustentabilidade da produção alimentar. Além disso, a procura por proteína de origem animal deverá aumentar 52% em relação a 2019. Manter o modelo atual de produção alimentar torna-se insustentável, devido ao elevado impacto no uso da água, na ocupação dos solos e nas emissões de carbono.
Proteínas alternativas: Caminho para a sustentabilidade
O impacto ambiental das proteínas de insetos é consideravelmente mais baixo do que o das proteínas animais convencionais. Os insetos requerem menos água, menos terra e produzem menos emissões de CO₂. Este cenário favorece o crescimento das dietas flexitarianas, nas quais os consumidores reduzem o consumo de carne e peixe em busca de alternativas mais saudáveis e sustentáveis. Entre essas alternativas incluem-se leguminosas, sementes, microalgas, fungos, lentilha-de-água e os próprios insetos. Como fontes alternativas de proteína, os insetos tornam-se essenciais para a construção de sistemas alimentares mais resilientes.
Critérios para a produção industrial de insetos como fontes alternativas de proteína
Para que estas novas fontes alternativas de proteína sejam viáveis a nível industrial, é necessário cumprir critérios rigorosos em termos de custo, volume de produção, proximidade, qualidade nutricional e digestibilidade. Na AINIA, intervimos em todas as fases do processo: desde a identificação e seleção de novas fontes, passando pelo processamento e adaptação, até ao desenvolvimento do produto final. Seguem-se alguns exemplos de projetos em que estamos a trabalhar.
Tecnologias para melhorar a qualidade dos ingredientes proteicos: Extração com CO₂ supercrítico
Entre as tecnologias com maior potencial neste contexto destaca-se a extração com CO₂ supercrítico, uma solução limpa e isenta de solventes para o desengorduramento e concentração de nutrientes em várias matrizes biológicas.
Temos vindo a desenvolver esta tecnologia de forma intensiva, especialmente no âmbito de estratégias de biorrefinaria focadas na valorização de materiais vegetais. Estes mesmos princípios podem ser aplicados às fontes alternativas de proteína, incluindo as proteínas de insetos, para melhorar o valor nutricional e funcional dos ingredientes obtidos. A extração com CO₂ supercrítico permite separar lípidos e proteínas de forma precisa, preservando a bioatividade e a pureza, o que a torna ideal para o desenvolvimento de ingredientes alimentares sustentáveis e de alto desempenho.
PROXIMED: Novas fontes alternativas de proteína para alimentação humana e animal com tecnologias verdes e inovadoras
Este projeto europeu tem como objetivo introduzir fontes alternativas de proteína sustentáveis na região mediterrânica, tanto para consumo humano como animal, utilizando tecnologias verdes e inovadoras. No caso dos insetos, desenvolvemos dietas específicas para a sua criação e um processo de estabilização que inclui secagem e desengorduramento, resultando num ingrediente proteico de alta qualidade. Este ingrediente é depois processado por extrusão de alta humidade (HMEC) e texturização de baixa humidade (TVP) para a produção de análogos de carne com base em proteína de inseto. Colaboramos com a ProteInsecta e o Instituto Alemão de Tecnologia Alimentar.
Seleção de espécies e processamento: Tenebrio molitor, Hermetia illucens, Acheta domesticus e Locusta migratoria
As espécies selecionadas – Tenebrio molitor, Hermetia illucens, Acheta domesticus e Locusta migratoria – foram escolhidas com base em critérios nutricionais e de conversão alimentar. Desenvolvemos substratos com subprodutos agroindustriais como polpa de citrinos, lentilha-de-água e cânhamo, que influenciam o perfil nutricional dos insetos. O processo de estabilização inclui escaldamento, secagem, moagem, desengorduramento com fluidos supercríticos e fracionamento a seco para obtenção de um ingrediente proteico concentrado.
Avaliação da digestibilidade e qualidade proteica
No projeto PROALT II, avaliámos a digestibilidade e qualidade proteica dos insetos através de um sistema de digestão gastrointestinal in vitro. Esta abordagem permite comparar a quantidade de aminoácidos e péptidos presentes na proteína original e na fração digerida, assegurando que os insetos são fontes alternativas de proteína completas e adequadas à alimentação humana.
Aplicações e desenvolvimento de produtos: Análogos de carne e peixe a partir de insetos comida
Os ingredientes obtidos são processados por extrusão de alta e baixa humidade, originando análogos de carne e peixe. No projeto VEGEXT, também exploramos fontes vegetais como ervilha, arroz e batata, em combinação com insetos, para desenvolver produtos semelhantes à carne. As estruturas intermediárias são transformadas em produtos finais como hambúrgueres e nuggets, avaliados pelo nosso departamento de consumidores em termos de sabor, textura e aceitação. Este trabalho reforça o potencial dos insetos comida como solução inovadora na alimentação.
CHEERS: Valorização de subprodutos industriais para criar novas fontes alternativas de proteína
O projeto CHEERS tem como objetivo criar um novo modelo de biorrefinaria para transformar subprodutos da indústria cervejeira em bioprodutos de elevado valor. Um deles é a proteína de inseto de alta qualidade. Estamos a estudar várias estratégias de processamento, incluindo fracionamento a seco e húmido, bem como diferentes tecnologias de secagem e desengorduramento. Este projeto demonstra o valor da economia circular na produção de fontes alternativas de proteína sustentáveis.
Os insetos representam uma solução promissora para o futuro da alimentação. Através de tecnologias avançadas e processos inovadores, podemos melhorar as propriedades nutricionais e tecnológicas destes ingredientes e desenvolver alimentos adaptados às exigências do mercado e dos consumidores. Com a crescente procura por soluções sustentáveis, os insetos afirmam-se como fontes alternativas de proteína viáveis – tanto agora como no futuro.